O Metropolitan Museum tem, em seu calendário de longa data, uma grande e significativa exposição de moda anual. Sob a coordenação de Anna Wintour, a diretora da Vogue América, o evento transformou-se em um dos eventos mais aguardados do sistema da moda contemporânea. O órgão realizador deste evento é o Costume Institute do Metropolitan Museum, hoje, uma das instituições mais importantes na divulgação da moda e sua história.

Moschino 2016. Foto: Andrea d’Andrea.
Moschino 2014. Foto: Andrea d’Andrea.

O título foi baseado no ensaio de Susan Sontag: Notes on  Camp, de 1964, que encontra eco em diferentes nomes e personagens ao longo da história da moda. A mostra é um grande passeio pelos momentos do passado, até a contemporaneidade, entre criações e criadores, que desafiaram sua época e apresentaram suas visões criativas. Autores e obras romperam barreiras e instigaram com suas novas e até mesmo excêntricas estéticas.

Segundo seu curador, Andrew Bolton, “a exposição vai promover um diálogo criativo e crítico, sobre o impacto da evolução da estética Camp na moda”. São  cerca de  250  peças expostas entre moda, esculturas e pinturas, durante o período que se estende do século XVII até os dias atuais. Portanto, trata-se de uma grande viagem pela história.

Mary Katrantzou (2011) e Paul Poiret-(1912). Foto: Andrea d’Andrea.
Foto: Andrea d’Andrea.

Mas, afinal, o que é Camp? Camp significa: exuberante, artifício, ironia, extravagância, teatralidade, excessos, nostalgia, humor entre outros sentidos. Para a autora é “a paixão pelo exagero e pelo extravagante; a possibilidade de reler o passado expressando a si mesmo. Perceber o Camp em objetos e pessoas é entender que o verbo ser significa representar um papel. É a maior extensão, em termos de sensibilidade, da metáfora da vida como teatro”.

Teatralidade e excessos estão persentes na moda, em vários momentos, e com diversos criadores. É uma linguagem própria, que busca distinção em novo espaço. Toda essa intensidade se mescla ao tema e, ao meu ver, Camp é uma expressão do nosso tempo. Uma busca por entender melhor o nosso momento na ruptura de limites e busca de novos caminhos. É sinônimo de liberdade!

Marjan Pejoski (2001) e Moschino (1989). Foto: Andrea d’Andrea.

Para ilustrar melhor o tema abordado, eu poderia falar de vários criadores do passado, que trabalham com esse conceito. Porém, hoje, vejo a presença muito forte, entre outros, do italiano Alessandro Michelle, diretor criativo da marca Gucci e que está fazendo muito sucesso.

Alessandro tem um jeito próprio de ver o mundo e de criar, com vasto repertório cultural e com um estilo diferenciado. Descontrói e constrói conceitos, unindo de forma única momentos históricos, imagens, personagens e histórias. “Tudo que me inspira e o que vejo, seja do ontem, do hoje, ou de séculos atrás, estão ao mesmo tempo, na frente dos meus olhos. Portanto, é presente. É o meu presente. É a minha contemporaneidade”, disse ele certa vez. Assim, nota-se uma nova relação com o tempo, sem nostalgia, mas com muita energia no hoje.

Gucci 2019. Foto: divulgação.

Suas criações provocam, são ousadas, desafiam, rompem rótulos e cânones estéticos. Mostram novas conexões e formas inovadoras de combinar elementos, vindo a ser um convite para vivenciar uma nova experiência estética.

A instigante exposição, que acontece de 9 de maio a 8 de setembro de 2019, foi projetada pelo cenógrafo teatral Jan Versweyveld. Esta será uma oportunidade em que seremos convidados a pensar sobre  o que é, o que significa e o que pode representar o termo Camp. Termo que não é novo, mas que está muito bem inserido no momento contemporâneo. É um convite à fruição de um esteticismo excêntrico, desafiando as convenções.

O extenso e amplo assunto convida para reflexões e diálogos criativos, que se estendem muito além do universo da moda. E, sob essa perspectiva fica o nosso convite para que você também nos diga: o que é Camp?